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O escritor e o ditador

O Nobel neoliberal contra o populista “outsider” nas eleições presidenciais peruanas de 1990

atualizado

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Peru, 24 de maio de 1990. No Centro Cívico de Lima, vai começar o único debate no segundo turno das eleições presidenciais. O sorteio determina que as primeiras palavras são do escritor Mario Vargas Llosa, que venceu o primeiro turno e, de acordo com as pesquisas, ganhará a disputa por estreita margem. Solene, mãos para trás do corpo, ele diz com seu penteado grisalho impecável que o Peru nunca teve tanta fome, desemprego e violência, e precisa de mudança: “Quem tem as melhores ideias, equipe, os melhores contatos internacionais? Espero que o debate responda a essas perguntas”

Logo depois, a surpresa daquele pleito, o engenheiro agrônomo descendente de japoneses Alberto Fujimori. Os fios pretos de seu penteado parecem rivalizar com os do escritor, a baixa estatura contrasta com a voz segura, que diz ignorar as difamações que sofreu porque o país precisa de união: “o povo quer paz e tranquilidade, quer acabar com a corrupção, quer bem-estar, um futuro. Vocês querem um Peru grande. E sabem de uma coisa? Eu também”.

O fim do governo do aprista Alan García é um desastre econômico com denúncias de corrupção. A hiperinflação ultraaria os 7.000% naquele ano. Faltavam alimentos e combustíveis, a taxa de desemprego era alta. O Sendero Luminoso impunha sua violência em parte do país. A direita tradicional e as esquerdas estavam divididas e fulminadas pelo descrédito.

A política, que sempre frequentou as sinapses do novelista de Arequipa, se intensificara nos últimos anos. Em 1987, participou ativamente dos protestos contra a iniciativa de Alan Garcia de nacionalizar os bancos. Já abraçado ao ideário neoliberal, surgiu como uma das lideranças da Frente Democrática, uma coalizão que reuniu integrantes do Partido Popular Cristão, a Ação Popular, legenda do ex-presidente Fernando Belaúnde (dois mandatos: 1963-68 e 1980-85) e o Movimento Liberdade, novo partido fundado por Vargas Llosa durante sua defesa do setor bancário.

Apesar de vencer o primeiro turno com 32.6% dos votos – Fujimori alcançou 29% e o Luis Alva Castro, candidato governista 22,5%, o jogo virou na segunda volta. As imagens de elitista, intelectual, branco e entreguista grudaram no escritor. O programa econômico neoliberal, de privatizações e desvalorização da moeda, alimentou a desconfiança da população que acreditava que só os ricos seriam beneficiados.

Durante a campanha Fujimori dizia que Llosa representava o “neoliberalismo selvagem’ que iria deixar os pobres na rua; “Querem um presidente que fale de livros ou resolva os problemas?; “O Peru precisa de um presidente que fale Quechua”. Vargas Llosa se defendia: “Dizem que sou um candidato da elite, mas a verdadeira elite é a que vive às custas do Estado e não quer mudanças”; “O Peru não pode seguir sendo o país do paternalismo estatal, onde as pessoas esperam esmolas. Há sua frase mais premonitória: “Se não modernizarmos o Peru pela via democrática, alguém o fará pela força”. Estava certo. Pois em 1992, Fujimori deu um golpe de Estado.

Fujimori vendia a imagem de outsider e antipolítico. Engenheiro agrônomo com doutorado em matemática nos EUA, ganhou certa exposição apresentando um programa de TV similar ao Globo Rural. Em sua campanha detonava a classe política e se autoproclamava “o candidato do povo, com o slogan “Honestidade, Tecnologia e Trabalho – Contra a oligarquia e o comunismo, Fujimori presidente”. “Não sou político, sou um engenheiro que quer consertar o Peru”, repetia.

Já o intelectualismo e o discurso neoliberal definiram a campanha do autor de Festa do Bode. Seu principal slogan foi “O futuro do Peru está na liberdade” e carregava mensagens como “Chega de demagogia, o Peru precisa da verdade” ou “Contra o estatismo, por uma economia de mercado”. Enquanto Fujimori procurava dialogar com as classes mais pobres, Vargas Llosa se apoiava nas classes médias urbanas.

Resultado do segundo turno: Fujimori conquistou 62,5% dos eleitores, Vargas Llosa 37,1%. Com apoio dos governistas e da esquerda, o populista saltou de 1,9 milhão para 4,5 milhões de votos. O liberal ou de 2,1 para 2,7 milhões.

Sobrou sua eterna amargura com a esquerda, “que preferiu abraçar o desconhecido antes de itir que a liberdade econômica é o único caminho. É uma traição para suas bases. Mas soube valorizar o rito democrático: “Perdemos, mas o Peru ganhou, porque a democracia prevaleceu. Agora, espero que o novo governo não traia essa confiança.”

A grande ironia dessa eleição é que meses depois Fujimori aplicou o receituário neoliberal que criticou durante a campanha. O Fujishock foi ainda mais radical do que as propostas do Prêmio Nobel, que previa mudanças graduais e proteções sociais para os mais pobres, ignoradas pelo populista. “Fujimori está aplicando exatamente o que nos criticaram por propor, mas sem o compromisso com a liberdade”, disse à época

Nos anos posteriores, as declarações que revisitaram sua candidatura transitaram entre o arrependimento, “fomos muito técnicos e pouco emocionais” e a certeza de suas ideias “o tempo provou que estávamos certos na economia”. Anos depois, ele itiu que a campanha foi “muito arrogante”.

O livro Peixe na Água é seu testemunho sobre sua aventura política. “Na literatura, controlo tudo; na política, sou um peixe na água suja, lutando para não afundar”. Na obra escreve também que “O Peru é um país tão difícil de governar quanto de entender. Mas é impossível não amá-lo, mesmo quando ele te decepciona”.

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