Harvard, a bruxa (por Eduardo Fernandez Silva)
As consequências das ações do governo Trump
atualizado
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O período do Macarthismo, nos EUA, ficou na memória como tempos tristes e difíceis, cheios de arbitrariedades. Tratando-se do país de que se trata, pensava-se que a atmosfera de medo e arbítrio jamais se repetiria. Ledo engano!
Queimar as bruxas, acusadas sem provas, era antiga prática principalmente europeia, basicamente superada após o iluminismo, com o crescimento da importância e respeito à ciência. Desacreditar da ciência era, e ainda é, indício de crenças infundadas, ignorância ou charlatanismo. Tal como voltou a ocorrer na nação mais poderosa do planeta terra.
Acreditar, apoiar e promover a ciência era, e continua a ser, fundamento de melhorias na qualidade de vida. Harvard, universidade criada há quase quatrocentos anos – época em que Portugal proibia escolas superiores no Brasil! – evoluiu para ser uma das mais belas, profícuas e respeitadas universidades em todo o planeta. Agora, virou bruxa a ser queimada, com apoio de grande parte dos cidadãos e cidadãs daquele país, cujo poder deve muito à ciência. Tudo isso em nome de se fazer (parte) da América (apenas a do Norte) grande novamente! Ironia da história?
Desacreditar da ciência, negar suas conclusões, ciência que foi fundamental para que as treze colônias se tornassem a potência atual, para quê? Por quê? Negar o papel dos combustíveis fósseis no aquecimento global e nos desastres dele decorrentes em razão de quê? De beneficiar alguns amigos em detrimento da humanidade? Que nome dar a tal proposta?
Fosse possível a transferência da universidade de Harvard, com todo seu patrimônio e potencial intelectual, algum país se recusaria recebê-la? E qual o crime cometido pela sua atual istração? Recusar-se a cumprir ordens arbitrárias e potencialmente ilegais de quem nega a ciência e, embora poderoso, não tem poder legal de determinar à universidade o que fazer!
Outro possível crime cometido por Harvard, fonte de reconhecidos avanços em muitos campos do conhecimento, teria sido não reprimir estudantes que manifestavam contra o genocídio e a limpeza étnica promovida pelos criminosos de guerra – e de corrupção – que hoje governam Israel. Qual tribunal minimamente equilibrado deixaria de livrar tais estudantes e condenar tal governo e aqueles que o apoiam?
Pensar diferente se tornou crime, em nome da liberdade de pensamento e de expressão?
Quantas contradições!
As consequências dessas ações do governo Trump – não apenas contra Harvard! – serão, provável e infelizmente, como afirmam quase todos os cientistas, nefastas para a maioria dos humanos, assim como para muitas outras formas de vida.
Em nome de quê? Para quê? Do lucro privado de uns poucos?
Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados